Miguel Santos

Quinze anos após o início da formação de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) pela Escola Superior de Educação do Porto (ESEP) é o momento de olhar para o passado desta área de investimento e perspetivar os desafios futuros que se lhe apresentam.

De facto, passaram já quinze anos desde a publicação da Portaria n.º 994/2000, de 17 de outubro, que formalizou o bacharelato em Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa (TILGP) que arrancou no ano letivo seguinte (2001/2002) e cujo plano curricular se manteve em vigor até ao ano letivo de 2008/2009.

O passo seguinte, em termos curriculares, motivado pela reconfiguração dos cursos de ensino superior à luz do processo de Bolonha, verificou-se com a aprovação da licenciatura em TILGP (Despacho n.º 19041/2008, de 16 de julho, que foi revisto em alguns pormenores em 2010, Despacho n.º 13979/2010, de 3 de setembro).
Os objetivos gerais de formação mantiveram-se em todas as versões:

    1. Interpretar e traduzir discursos de LP para a LGP e vice-versa respeitando as regras gramaticais e pragmáticas de ambas as línguas e utilizando-as com fluência, utilizando as técnicas de tradução, retroversão e interpretação adequadas;
    2. Reconhecer a Surdez como um fenómeno multidimensional, identificando as suas componentes históricas, sociológicas, culturais, psicológicas e médicas e, a partir desse conhecimento, promover a interação, comunicação e relação entre pessoas surdas e ouvintes;
    3. Conhecer os contextos de trabalho do intérprete de LGP, com particular enfoque no contexto educativo e no processo de ensino e aprendizagem, fundamental para a promoção da participação e da autodeterminação da pessoa Surda;
    4. Construir a identidade profissional do intérprete, tendo por base aspetos pessoais, profissionais, científicos, tecnológicos e todo um modo de ser, de estar e de saber que permita respeitar e cumprir o código de ética e as linhas de conduta socialmente apropriadas.

O curso passa, atualmente, por uma fase de revisão, motivada pela avaliação externa pela Agência de Avaliação e Acreditação no Ensino Superior (A3ES). A reflexão desenvolvida no âmbito da comissão de curso e que contou com os contributos de docentes, estudantes, funcionários e profissionais no terreno, está plasmada no Relatório de Autoavaliação submetido à A3ES. Foram assinalados vários aspetos que nos pareceram valorizar a nossa instituição e a formação que ela presta.

No entanto, foram encontrados pontos que necessitam de atenção e que motivaram uma proposta de revisão do plano curricular. Foram também definidas áreas prioritárias de investimento onde se destaca aquela que nos parece ser a área-chave para o próximo triénio: a investigação científica sobre o processo de tradução e interpretação em LGP, área embrionária no nosso país e para a qual a nossa instituição se encontra numa posição particularmente preparada, tendo em conta o número e a qualidade dos nossos docentes e investigadores e a disponibilidade de recursos materiais.

Os quinze anos de história deste curso garantiram à ESEP um lugar fundamental na formação de intérpretes a nível nacional. É agora tempo de marcar a nossa posição na investigação científica sobre este domínio.

Coordenador do Curso | julho de 2014 a janeiro de 2023